São tantas opções de jogos para escolher que os jovens nem sabem por onde começar. Até um dos mais conhecidos jogadores de futebol da atualidade, Neymar Júnior, não perde a oportunidade de investir seu tempo nesse universo virtual. Neymar é adepto do jogo de tiro Counter-Strike: Global Offensive, mais conhecido como CS:GO. A atriz Megan Fox também gosta desse tipo de jogo, mas opta pelo Halo: Reach. Além deles, o ator Henry Cavill, conhecido por interpretar o heroi super-homem, também aproveita as horas de lazer para se divertir no World of Warcraft. Em 2017 foram contabilizados 2,2 bilhões de jogadores regulares no mundo, conforme última atualização trimestral da Global Games Market Report, levantamento feito pela empresa Newzoo. Os efeitos cada vez mais reais no universo virtual tem atraído a atenção de muitas pessoas, que parecem realizar uma imersão dentro da história do jogo. Esse processo tem sido associado por muitos psicólogos como fator que influencia no surgimento de problemas psíquicos, já que os sentimentos ficam fortemente entrelaçados e dificulta a separação entre os mundos (real e virtual). Atentos a esta realidade, a Organização Mundial da Saúde publicou a 11ª revisão da Classificação Internacional de Doenças (CID-11), que categoriza e adiciona o Transtorno de Jogos Eletrônicos (tradução livre de Gaming Disorders) como uma doença mental. A Classificação é uma base para identificação de tendências, estatísticas e padrão internacional de notificação de doenças e condições de saúde. Ele é usado por médicos em todo o mundo para diagnosticar e por pesquisadores para categorizar. Através da inclusão, os países membros da OMS procurem analisar a situação geral da população e realizar um monitoramento da incidência, prevalência e outros problemas de saúde decorrentes. A última atualização da CID foi em 1990. Com relação ao transtorno, a OMS o descreve como um padrão de comportamento em que o indivíduo perde o controle sobre seu hábito de jogar, dando preferência ao videogame em relação a outros interesses ou atividades, além da dificuldade em modificar/evitar esse comportamento mesmo após evidências claras de prejuízos para sua vida. Para o médico psiquiatra do Hospital Moinhos de Vento, Dr. Thiago Botter Maio Rocha, especialista em infância e adolescência, a publicação da CID-11 possibilita que os estudos sobre esse transtorno sejam aperfeiçoados. “A inclusão traz mais homogeneidade nos critérios de avaliação, possibilitando um avanço no campo da pesquisa na área, tanto para desenvolvimento de melhores instrumentos de rastreamento e identificação precoce, como também para uma melhor avaliação da eficácia de possíveis tratamentos”. Entretanto, por se tratar de um transtorno relativamente novo, o psiquiatra alerta para os riscos de associar uma atividade de passatempo, não problemática para a maior parte das pessoas, com comportamentos de maior risco, como jogo patológico e uso de substâncias psicoativas. “Por mais que uma porcentagem de usuários de videogames possa vir a desenvolver características semelhantes àqueles pacientes diagnosticados com dependência do jogo, existe também o risco da demonização precoce dos videogames, atribuindo a eles uma responsabilidade e culpa maior do que eles de fato mereçam.” A médica do Serviço de Psiquiatra do Hospital Moinhos de Vento, Dra. Carmen Baldisserotto, explica que existe uma diferença entre os casos existentes atualmente. “O vício pode ser considerado um mau hábito ou um comportamento repreensível e nocivo pré-dependência, que também pode trazer prejuízos, mesmo ainda não havendo as características mais sérias. Já a dependência de jogos eletrônicos é um transtorno mental mais grave que o uso abusivo”. Com relação ao tratamento, Dra. Carmen aponta que é necessário entender e analisar cada caso de forma separada. “Nem os jogos nem os jogadores são todos iguais. Tudo depende de quem está jogando e de como realiza essa ação. O Transtorno de Games é heterogêneo (não possui uma estrutura padrão). O problema não é só o jogo, precisamos entender essa pessoa e o seu momento de vida”. A psiquiatra complementa que o transtorno dificilmente acontece sozinho, na maioria das vezes o indivíduo já possui algum outro problema psíquico. “Geralmente existem comorbidades psiquiátricas associadas, principalmente Depressão, Fobia Social e Transtorno de Hiperatividade e Déficit de Atenção. Também foram observados pacientes com Transtorno Obsessivo Compulsivo, Transtorno Bipolar, Aspenger e Transtorno de Personalidade Narcisista. Problemas familiares são frequentes como fator de risco para o desenvolvimento de dependência de jogos, além da dificuldade de conversar com os filhos, inclusive sobre o próprio habito de jogar”. Para Dr. Thiago, a CID-11 não visa alarmar todos os pais e mães a levarem seus filhos ao psiquiatra por jogarem de forma demasiada. “No entanto, é fundamental que os pais estejam dispostos e disponíveis para uma atitude de maior proximidade e supervisão sobre o uso que seus filhos fazem das mídias eletrônicas. Conforme as últimas recomendações da Associação Americana de Pediatria, deve ser delimitado tempo e tipo de mídia que serão acessados, conforme a faixa etária.” “A OMS acerta ao incluir os jogos eletrônicos como uma área merecedora de atenção pública. No entanto, há o risco de apontarmos para a situação correta, mas identificarmos o culpado errado”, pondera. Vício x dependência A revisão estabelece um período de 12 meses para análise do comportamento do indivíduo, podendo o diagnóstico ser feito em um tempo menor, se preencher todos os critérios de dependência. Conforme a Dra. Carmen, essas características podem se confundir com o vício de jogos, mas há uma diferença de intensidade com relação aos hábitos, costumes e prioridades percebidos em cada caso. As principais delas incluem:
  • Um padrão recorrente e persistente de jogar videogames ou jogos eletrônicos com perda de controle sobre o mesmo;
  • Aumento da prioridade, deixando outras atividades de lado para poder jogar (por exemplo: não comer, não tomar banho, não estudar, não ir na aula, não ir trabalhar, preferir ficar jogando do que conviver em família ou socialmente, preferir viver uma vida virtual do que a real);
  • Persistência no comportamento de jogar, apesar das consequências negativas decorrentes;
 
Fonte: Dra. Carmen Baldisserotto (CRM: 22218), médica do Serviço de Psiquiatria do Hospital Moinhos de Vento, e Dr. Thiago Botter Maio Rocha (CRM: 31966), médico psiquiatra do Hospital Moinhos de Vento.

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