Por mais difícil que seja receber um diagnóstico de câncer, o desejo por apreciar mais momentos com a família e amigos ou realizar um sonho são anseios capazes de tornar a doença apenas um obstáculo. O termo em inglês coping, que significa a maneira como alguém lida com determinado aspecto da vida, aparece em diferentes artigos e comprova que se uma pessoa decide enfrentar uma determinada situação um futuro diferente se apresenta na sua frente. Além disso, mostra que com autoconfiança e domínio, é possível alcançar um melhor prognóstico e sofrer menores efeitos colaterais durante o tratamento. Com o objetivo de abordar aspectos que amparam as escolhas e as decisões de lutar ou não contra uma doença, convidamos a psiquiatra Lorena Caleffi, médica do Serviço de Psiquiatria do Hospital Moinhos de Vento, e o pastor e doutor Daniel Annuseck Hoepfner, coordenador do Serviço Pastoral Ecumênico do Hospital Moinhos de Vento, para responder algumas das principais perguntas referentes à vida.

O que faz uma pessoa valorizar mais a vida?

Ter objetivos que se queira alcançar, seja do tamanho que forem, motivam a escolha por lutar pela vida. É a perspectiva de futuro que faz a pessoa se submeter a tantos tratamentos, exames e medicações. Entretanto, não é um desejo por algo distante, estar vivo é o que movimenta e estimula a continuar lutando. “A vida é o que acontece entre cada aplicação de quimioterapia, entre cada exame e entre cada consulta. Além disso, para aproveitar mais o momento, é importante focar no que continua acontecendo além do tratamento, pois é para esses momentos que os pacientes estão se submetendo a tudo isso”, relata Lorena. Mesmo com medo da morte, muitas pessoas não desistem e apenas buscam fazer a sua vida “valer a pena”. E isso se explica porque a realidade da morte jamais faz da jornada humana um caminho marcado pelo fracasso. Para a tradição judaico-cristã a vida compreende uma dádiva que gratuitamente recebemos. Ou ainda, um talento que ganhamos para dela fazermos uso de forma responsável e ética. E isso só é possível reconhecendo o seu valor, sobremaneira, a dignidade da existência. “Valorizamos mais a vida na medida em que conseguimos dar um valor inestimável e incondicional para este bem maior que recebemos. Lutamos pela vida porque somos preciosos, únicos e amados!”, complementa Daniel. Entretanto, a ausência do desejo pela vida também pode ser um sinal de alerta. Quem apenas se deixa levar, abrindo mão de suas próprias necessidades e valores, têm mais chance de piorar sua qualidade de vida e, inclusive, pode estar em um quadro depressivo. “O principal nesta situação é avaliar em que condições psíquicas o paciente está. Uma crise depressiva, por exemplo, pode estar por trás de uma atitude como essa”, alerta a médica. A depressão pode atingir cerca de 25% dos pacientes, em algum momento entre o diagnóstico e a fase pós-tratamento, e uma decisão de ‘parar com tudo’ pode advir de um pensamento adoecido. Diagnosticados e tratados, os sintomas desaparecem, alterando a forma de pensar desse indivíduo. “Isso não quer dizer que todos os pacientes estejam deprimidos ao optar por não mais realizar tratamentos que seriam curativos. Uma opção como essa é resultado de uma profunda ponderação entre perspectiva, sofrimento e valores individuais. Acrescento, pensando na família, que também não significa desamor”, pondera a especialista.

Cuidado multidisciplinar

Um fator importante na confiança dos pacientes é a equipe multidisciplinar. Eles os acompanham, acolhem em suas dúvidas e inseguranças, além de oferecer o que há de melhor em termos técnicos e de tratamento. “A perspectiva de que não caminhamos sozinhos pela enfermidade e pelo sofrimento é consoladora e animadora. Saber que podemos escolher e lutar pela vida tendo bons parceiros ao nosso lado nos deixam mais fortes, mais vivos, mais humanos”, destaca Daniel. Existem muitas recomendações e intervenções que ajudam na saúde mental. A primeira estimula que a pessoa invista no que dá satisfação, como ter um hobby, ler – a leitura é um exercício cerebral fundamental -, estudar, exercitar o corpo ou praticar alguma técnica de relaxamento. Já a segunda, é oferecida durante o tratamento, buscando aumentar a resiliência do paciente, como sessões de psicoterapia positiva, mindfulness ou terapia de grupo de apoio, em no mínimo 12 encontros. Se necessário, psicoterapia individual.

Como encarar a morte?

Quando questionado sobre o tema desta matéria, o pastor Daniel trouxe a sua perspectiva de como encarar não apenas os obstáculos, mas também a morte, que é a maior certeza que o ser humano possui. “Ao escrever as presentes linhas lembro-me de pessoas que acompanhei em seu leito hospitalar, de enfermidade ou de terminalidade. Tantas lutaram pela vida, tantas venceram obstáculos, sofrimentos ou doenças. Outras porém, mesmo lutando, tiveram que assimilar, inúmeras vezes de uma forma dolorosa e sofrida, que a morte compreende uma realidade inerente e próxima de seus dias”, confidência. “Fato é, a vida tem natureza histórica, isto é, um início e um fim! Quem negar a morte, nega a própria realidade da vida: vive uma existência inautêntica!”, conclui o pastor.

A atuação dos cuidados paliativos

Segundo a Organização Mundial de Saúde, cuidados paliativos é a assistência integral oferecida para pacientes e familiares diante de uma doença grave que ameace a continuidade da vida. O objetivo é oferecer o tratamento eficaz para os sintomas de desconforto que podem acompanhar a pessoa, sejam eles causados pela doença ou pelo tratamento. Além disso, são um conjunto de tratamentos que visam manter a melhor qualidade de vida possível, evitando sofrimentos desnecessários. “Um aspecto importante dos cuidados paliativos é prevenir complicações de luto dos familiares, na medida em que a equipe proporciona e encoraja, através de comunicação clara e eficaz, a autonomia, a dignidade e as escolhas do paciente”, explica Lorena.
Fonte: Lorena Caleffi (CRM 17211), médica do Serviço de Psiquiatria do Hospital Moinhos de Vento, e o pastor e doutor Daniel Annuseck Hoepfner, coordenador do Serviço Pastoral Ecumênico do Hospital Moinhos de Vento

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Prêmios e Certificações

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